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Desperdiçando versos Peguei-me, de novo, na intenção de versejar para ti.Ao ver-me só, notei-me frágil e tão sentido...E vi que o amor me fez patético – e sem sentido!E o verso, assim, seria um desperdício.Pensar em ti é uma imolação que não purifica,que não consagra, que não purga nem redime.É um ritual de autoflagelo já reprisado tantas vezesque há muito deixou de ser sagrado.É mera liturgia condicionada, insana e vazia.De repente, notei que meu coraçãotornou-se um altar de vãs adorações,por onde desfilaram divindades indignas dissoe que se sucederam a cada pretexto de desencanto.E tu foste importante e valiosa, mesmo sendo mais uma delas! Mas, agora, pouco importa quem sejas tu,porque o que fica é sempre esse altar vazioem que só a desilusão se aloja escarnecendo do que foi o sonho.Por que, então, rabiscar um verso?Por que, então, arriscar o verbo?Ora! Porque o poema não é mais para ti.O que cultuo são os restos de mim.Quem ama a si mesmo jamais se abandona.Para quem já perdeu quase tudo,de consolo, resta sempre a esperança.Para mim, que até a esperança já perdi,restou somente a poesia.Desperdiço versos para não desperdiçar a mim! .oOo.
OBED DE FARIA JUNIOR
Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 22/06/2010
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