Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

Textos


 

Em plena madrugada



Não pude identificar a causa, mas em plena madrugada despertei e, mesmo virando para o outro lado, não consegui dormir novamente. Meio desesperador, numa hora dessas, haver apenas dois lados como opção para algo que, em tese, requer muitas e muitas tentativas. Lá pela quarta ou quinta virada, já não se sabe mais qual é, enfim, o “outro lado”. Cogitei inverter a posição dos travesseiros para a outra extremidade da cama e, até, como último recurso, plantar uma bananeira. Porém, a essa altura, as variantes do que poderia se considerar como “virar de lado” já não tinham mais sentido, porque o sono se fora de vez.

Nos mostradores digitais espalhados por essa infinidade de aparelhos e equipamentos que guarnecem a casa, o horário tinha baixíssima estatura. Cada eletrodoméstico tem uma utilidade específica, mas todos, por alguma praga tecnológica qualquer, têm em comum se transformarem em marcadores de tempo quando não estão se prestando àquilo que deveriam fazer em seus respectivos objetivos de ser. Num ou noutro, mais completo, havia a indicação de que já estávamos na quarta-feira.

Foi triste constatar que madrugadas de quartas-feiras têm um sabor insosso de noites de terças-feiras mal acabadas. Todavia, tanto faz ser terça ou quarta-feira. Os filhos do meio carregam a sina de serem quase sempre desinteressantes, ainda mais em famílias com sete irmãos. Suponho que a única exceção seja a madrugada da Quarta-feira de Cinzas, porque nela se agarram os últimos suspiros desses momos que, qual fênix, renascem e morrem a cada ano. Só que, hoje, ainda falta um tantinho para o Carnaval.

Houvesse aqui alguma parceira para arriscar, eu até poderia tentar esquentar as coisas, mas por aqui só há mesmo a me fazer companhia este infernal calor de verão – que é um enorme complicador numa situação como essa. Diante disso, tomei um banho frio e um café quente; ou seja, me rendi à insônia como um fato consumado. E eu, fiquei aqui, de fato, consumido!

Tudo isso não leva a nada e, assim como eu perdi o rumo neste tempo que é um deserto de expectativas, este relato também não sabe mais aonde ir.

Que mais se poderia esperar em plena madrugada?


                                             .oOo.                                     

OBED DE FARIA JUNIOR
Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 10/02/2010
Alterado em 07/04/2010
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