Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

Textos


Quem me leu, quem me lê!
 
 
Na fronteira entre a sanidade e a loucura, por menos que possam perceber, há um traço que marca com precisão os limites entre uma e outra. Não é nenhuma linha imaginária, não! Há um tal desnível entre um plano e outro que, onde ambas se encontram, forma-se um verdadeiro abismo.
 
Bem ali na beiradinha da sanidade, olhando para baixo vêem-se as profundezas do tal abismo por onde a loucura se estende. Contudo, a bem da verdade, naquele ponto limítrofe, olhando para cima existe outra esfera de não ser normal e que ganha o espaço infinito. A questão é: ao atravessar tal fronteira, irá se cair nos domínios da loucura abissal ou, de outra forma, se alçará voo na amplitude da anormalidade sublime.
 
Já faz muito tempo que estou sentado nesse ponto da consciência. Algo me atrai a transpor essa fronteira e, vez por outra, sinto a vertigem que me suga ao fosso fundo da insanidade, abismo abaixo. Outras vezes, contudo, quase posso levitar na direção do desvario que me ergueria às alturas do sobrepensar. 
 
Hesito há tanto tempo, que o que deveria parecer o chão firme deste mundo – ironicamente chamado de normal - está se erodindo rapidamente. A vida, por aqui, está tão árida, mas tão árida, que tornou-se insuportável continuar habitando numa dúvida.
 
Por aqui, tudo está muito virtual. Os contatos são virtuais, sejam em palavras escritas, imagens transmitidas ou sons trocados. Tudo é só impulso eletrônico que imita a vida. Mesmo quem se apresenta em pessoa, continua sendo virtual: as verdades e mentiras são dissimuladas, risos e lágrimas são instrumentos de manipulação, prazeres e desgostos são emblemas de distinção. Ninguém mais parece ser humano. São personagens mascarados, nada mais.
 
Já faz muito tempo que ninguém me deixa ser autenticamente humano, porque isso, hoje em dia, não é normal. Anormal, por anormal, prefiro ultrapassar a fronteira e descobrir o que irá acontecer.
 
Irrelevante será o resultado para o resto do mundo. Se eu cair no abismo, ninguém ouvirá o som de meu espírito se estatelando lá em baixo e me esparramando no lodaçal das profundezas. Se eu sair voando, ninguém mais poderá me ver para o lugar onde estarei indo, pois irei me diluir no ar.
 
Deixo três charadas por serem decifradas – já que eu mesmo não tenho certeza se desvendei: “Deus”, “amor” e “verdade”. Duvido que possam ser elucidadas, porque se alguém já tivesse conseguido, por certo, estaria aqui, agora, segurando a minha mão. 

                                         .oOo.                                       
OBED DE FARIA JUNIOR
Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 27/12/2009


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