Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

Textos


 
Filho de peixe, peixinho é!
 

          Não há muito que eu possa me queixar de meus filhos. Ambos são saudáveis, bonitos, inteligentes, espirituosos, criativos e – descontada esta minha indisfarçável corujice – chamam mesmo a atenção por tantos predicados que acumulam. A modéstia me impede de enfatizar que, obviamente, puxaram muito ao pai, mas meu senso de justiça não pode omitir que trazem muitas contribuições da mãe, também.

          Porém, Guilherme, meu caçula, é um caso à parte porque, especificamente, recebeu herança genética ou absorveu pelo exemplo justamente a malandragem inerente a este seu pai . De minha parte, eu sempre busquei dosá-la dentro de mínimos padrões éticos. Contudo, ele ainda precisa de alguns puxões de orelha para endireitar seu rumo na vida. Vivaz e carismático de nascença – ele é uma gracinha! – o menino dá nó em muita gente à sua volta para obter e preservar as aparentes vantagens de uma vida desregrada.

          E não é difícil notar uma certa semelhança entre o comportamento do garoto e o meu próprio, mesmo que guardadas as devida proporções. Resgate cármico, dirão alguns! Bem feito, dirão outros! 


          O que sei é que às vezes fica difícil explicar a ele porque este pai toma, certas vezes, atitudes enérgicas e aparentemente desagradáveis.  Na verdade, são medidas disciplinares indispensáveis à construção de seu caráter. Não que eu tema que ele erre onde eu mesmo já errei. Meu temor é que, como ele parece ter uma esperteza bem maior que a minha, provavelmente se e quando viesse a errar, o faria de forma a me superar na magnitude dos equívocos.


          A vivacidade e a ladinice são atributos valiosos para encarar os embaraços cotidianos, mas só alguma sabedoria legítima é que traz soluções consistentes nesta vida. Espero que algum dia ele entenda que, na minha posição, muitas vezes chamar-lhe a atenção para corrigir determinadas posturas e dizer-lhe não sob várias formas, são os melhores atos de amor que eu possa assumir como pai. Não porque eu me veja como um sábio – até porque não sou – mas porque tenho por obrigação ser o primeiro a tentar imprimir-lhe alguma sabedoria. 

                                             .oOo.                                    
OBED DE FARIA JUNIOR
Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 15/09/2009


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