Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

Textos


Amizades
 
 
          Hoje é Dia do Amigo e alguém notou - e chamou-me a atenção - para o fato de que pouco falo sobre amizades ou sobre meus amigos.  Não que o comentário, em si, fosse algum tipo de cobrança, mas sim uma espécie de alerta sobre esse aspecto em particular da minha vida.  Bom, para falar a verdade, tudo levou-me a crer que foi uma tentativa deliberada de enfiar o dedo em minhas feridas - ou em lugar pior, talvez.

          Não toco muito nesse assunto e, por certo, tenho lá meus motivos. É bem verdade que eu seria capaz de desfiar verdadeiro rosário sobre amigos que tive, que tenho e que, por certo, ainda haverei de ter. Entretanto, é lugar comum que amigos não são relevantes por sua quantidade, mas sim, pela qualidade dos vínculos de amizade.

 
          Considero a muita gente como um bom amigo, quando não, um grande amigo e, ainda, há os que eu diga serem meus melhores amigos. Admito que tenho admiração e respeito por muita gente, bem como, que estar na presença e, eventualmente, na convivência com certas pessoas dá-me especial satisfação. 
 
          Ocorre que meu primeiro e grande “melhor amigo” conheci, ainda, em minha adolescência. Ele tinha alguns anos a mais que eu e foi, para mim, como um irmão mais velho. Com ele aprendi sobre a vida, as pessoas, as circunstâncias e tantas outras coisas. Foi ele quem me apresentou a vida como ela é. Com ele eu falava de tudo, a conversa nunca acabava, os assuntos eram sempre interessantes e o ambiente sempre muito agradável. 
 
          Por certo que, depois disso, nenhum outro amigo conseguiu igualar-se, porque ninguém conseguiu suprir com plenitude a sensação de segurança e alegria que eu sentia próximo a ele. Se alguém quiser ficar imaginando que isso cheira a veadagem, que fique com seus pensamentos medíocres. Houve, sim, uma troca sincera de idéias e emoções; e nada mais além desse bem querer inerente ao companheirismo. Nada de conotação vulgar, como os insensíveis costumam dar a qualquer coisa na vida que lhes escape à percepção.
 
          Ocorre que a Lei de Murphy é o décimo primeiro mandamento em minha vida e esse meu grande, primeiro e melhor amigo veio a falecer precocemente em fins da década de oitenta, com pouco mais de trinta anos, por um problema cardíaco que ninguém imaginava existir - nem ele! Um grande vazio ficou em minha vida, porque pensei que jamais conseguiria reproduzir um sentimento tão forte quanto o que gerava nossa sincera amizade. Todas as outras, desde então – por melhores que fossem – padeceram do infortúnio de que eu tivesse um termo de comparação quase inigualável.
 
          Entretanto, já nesta fase madura em minha vida, venho notando com mais frequência sentimentos e sensações análogos. Minhas amizades, por pouquíssimas que sejam, com seus modos peculiares de ver a vida ensinam-me coisas o tempo todo, passam-me segurança, transmitem-me alegria e, principalmente, geram-me um imenso bem estar com seu contato. Ou seja, a maturidade parece ter amaciado minha alma um tantinho.
 
          Toda amizade verdadeira é, sem dúvida, uma espécie de amor. Pena que pouca gente se dê conta disso enquanto há tempo. Ainda bem que, mesmo tarde, parece que acordei para essa verdade.
 
OBED DE FARIA JUNIOR
Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 20/07/2009
Alterado em 02/09/2009


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