Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

Textos



Flor no asfalto

 

          Na tela do computador projetava-se o editor de textos, onde amontoavam-se as palavras, urdidas em simetria lógica a construir argumentos. E as palavras se reuniam em frases, que se congregavam em períodos, que conspiravam idéias. Tudo em nome do sagrado dever de cobrir a conta bancária. Trabalho! Trabalho! Trabalho! Bendita atividade que me sustenta e teoricamente me dignifica. Contudo, apesar do zelo indispensável, o melhor do melhor que eu fizesse poderia até me desincumbir perante as burocracias humanas, mas não preencheria o vazio de realização como ser humano. 


          De repente, os canais virtuais atiçaram os sentidos com o aviso sonoro de uma nova mensagem. Vislumbrando o ícone chamativo do envelopinho com correspondência eletrônica, a curiosidade venceu o senso de dever. O que seria? Agendamento de novo compromisso? Cobrança de obrigação atrasada? Contato para nova contratação? Trabalho! Trabalho! Trabalho! Bendita atividade que me sustenta e teoricamente me dignifica. 


          Surpresa! Não era nada disso. Singelas palavras urdidas em outro canto qualquer, cimentadas com carinho, dispostas em suave composição, congregando sentimentos sublimes. Nas entrelinhas, um sorriso e um beijo. 

          Daí, notei-me pleno, como quem vislumbra o raio de sol que se espreita entre as nuvens ou o fio d’água que escorre sorrateiro da pedra bruta. A vida, que brotava cheia de viço em algum lugar, indiferente às rudezas cotidianas, teimou em chegar até mim. 

          Enfim, senti-me realizado!

OBED DE FARIA JUNIOR
Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 24/04/2009
Alterado em 02/09/2009


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