Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

Textos



De que são feitas as esperanças


 
     Alguém dirá que as esperanças são feitas de fé, de sonho, de um desejo por coisas boas, de expectativas que a vida possa ter momentos e circunstâncias que nos sejam favoráveis. Nada disso estará errado. Tudo isso faz parte do que chamamos de esperança e, certamente, deve haver muito mais.

     Contudo, imagino que existe um componente indispensável no mecanismo de funcionamento das esperanças. Não sei bem se melhor não seria qualificar como um ingrediente na receita das esperanças.


     Falo do esquecimento, da premeditada anulação da memória, da inibição forçada das lembranças.


     Porque não conheço muita fé que não tenha sido testada sistematicamente pela consumação da inevitável e lógica ausência de milagres.


     Porque não tenho notícia de tantos sonhos, assim, que não tenham sido corrompidos e pisoteados pela dura marcha da realidade que lhes passa por cima.


     Porque não há registro de coleções infindáveis de desejos satisfeitos, a não ser aqueles poucos que tenham custado sacrifícios e perdas muito mais traumáticos do que os efeitos benéficos do que se desejou.


     Porque não há muitas exceções à regra de que, não raramente, expectativas positivas tendem a desembocar em decepções inevitáveis.


     É preciso esquecer tudo isso para que possam existir esperanças. Sem o esquecimento, as lembranças sempre hão de imperar no espaço que caberia aos bons auspícios no coração.


     Ai, de mim! Minha memória é muito boa... e indelével!

OBED DE FARIA JUNIOR
Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 24/04/2009
Alterado em 26/08/2009


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