Segredo revelado
Em meados da década de 1980 sepultei um filho meu; o primeiro. Por mais que saibamos que a morte é a única certeza nesta vida, é certo que ela sempre surpreende, choca e traumatiza. Além do mais, a circunstância dessa perda foi em especial mais contundente. A sequência natural da vida nos prepara, instintivamente, para assimilarmos a perda dos que nos antecederam e não para encararmos com naturalidade a dos que deveriam nos suceder.
De qualquer forma, nunca fui de abraçar tragédias como desculpas para não seguir em frente, seja lá em que circunstância for. Assim, um bom tempo depois disso, fui pai mais duas vezes. Ah! Meus filhos! Lindos, saudáveis, espertos... tudo de bom!
Quando contavam eles com treze e nove anos, chamei-os para uma conversa, porque senti que já era hora deles saberem que não tinham sido os únicos. Penso comigo que manter segredos não revelados pode inspirar desconfianças futuras, caso descobertos ao acaso.
Meu filho mais velho indagou se eu ainda sentia tristeza pela perda da criança. O mais novo, perguntou se eu ainda gostava muito daquele outro filho. Respondi-lhes:
"As tristezas que marcam a vida profundamente nunca desaparecem. O que acontece é que o tempo transforma aquelas dores que, de início, rasgaram como feridas, em um incômodas porém toleráveis cicatrizes.
O amor, quando é verdadeiro, nunca se apaga, mesmo depois de uma perda. Entretanto, o passado jamais concorre com o presente. Os diferentes tempos da vida convivem em harmonia quando encarados, cada um, em seu devido lugar."
Não tenho certeza de que eles tenham compreendido plenamente o que lhes respondi. Mas pressinto que meus filhos passaram a confiar mais em mim porque ficaram sabendo que meu amor por eles é eterno.
Os três devem ter ficado bem mais felizes comigo!
OBED DE FARIA JUNIOR
Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 23/04/2009
Alterado em 02/09/2009
