Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

Textos



Um conto de terror

 
 
          Aquela noite de domingo estava estranha. Um chuvisco irritante perdurava havia horas e, pertinaz, insinuava que não cessaria tão logo. Depois de um dia quente e abafado, o clima resfriou-se me obrigando a vasculhar tudo por aquele agasalho esquecido no fundo de uma gaveta qualquer. 

          Eu estava agitado, porque lançado na triste lida de enfrentar questões mal resolvidas. Teclava de maneira frenética. Letras e números que se amontoavam meio sem nexo na tela do computador onde, inexorável, o tempo se anunciava, avançando, segundo a segundo, no relógio digital. Ah! Corrida desigual e injusta! Os tipos que eu inseria, cada vez mais rápido, cada vez em maior quantidade, não conseguiam fazer frente àquele maldito relógio digital progredindo de forma implacável. 


          Os olhos ardiam - a esta altura vermelhos, é certo - e os ombros pinçavam agulhas que brotaram da posição já mantida por horas a fio sobre o teclado. Os dedos já não obedeciam com a destreza necessária os parcos raciocínios que, por inércia, continuavam a brotar em minha mente. 


          De repente, vislumbrei pela janela aquela figura sádica, crescendo e crescendo diante de meus olhos, de forma lenta mas incessante. Surgiu tímida por trás dos prédios em frente. Foi se avolumando aos poucos e, amorfa que é, agigantou-se rapidamente expandindo-se com vigor por todos os lados. 


          Meu coração disparou e o suor começou a escorrer por minha fronte. Aquele frio na barriga e uma dormência nas pernas. Que sensação horrível de impotência a de querer fugir e não haver para onde. 


          Quando dei por mim, ela já havia tomado conta da situação e me imobilizado com seus tentáculos invisíveis. Agora já era irreversível: a segunda-feira chegou e colheu-me em cheio, absolutamente despreparado para a resistência. Sufocou-me com uma dose cavalar de culpa e, por fim, aniquilou-me com seu veneno fatal: o prazo. 


          Ainda procurei resistir, prendendo a respiração e me debatendo continuamente, como se fosse possível desvencilhar-me das garras do tempo. Quando já esgotavam-se minhas forças, restou um fio de energia em mim suficiente, ao menos, para lançar ao vento meu epitáfio:  "Desculpe, oh! vida. Não houve tempo para terminar minha tarefa. Nada de heróico me resta, mas os covardes retardatários também merecem viver." 


          Em outras palavras, tudo se esvaía na esperança de que a terça-feira sobreviesse, caso a segunda-feira fosse misericordiosa. Porém, ela nunca é e, ali, também não foi. Esforço vão foi o meu e o prazo, enfim, venceu!

OBED DE FARIA JUNIOR
Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 23/04/2009
Alterado em 02/09/2009


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