Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

Textos


Ai! Que preguiça!



Lá estava eu recostado no sofá cama, pensando na vida, deixando passar alguma coisa no DVD sem me importar muito. Literalmente, coçava aquele depósito de esperança da humanidade num futuro melhor. Fazia um calorão e eu, de repente, me vi com sede. Não aquela sede de água, não! Minha sede era de uma boa cerveja gelada.

Meu primeiro impulso foi o de levantar para buscar uma latinha na geladeira, contudo, as forças da natureza, nesse instante, conspiraram contra meu intuito. Afinal, é princípio basilar da física que os corpos tendem a se manter em estado de repouso ou movimento numa constância retilínea e uniforme, até que alguma força aja em sentido contrário. Eis aí uma bela maneira de intelectualizar a preguiça que me deu em levantar e ir pegar a latinha de cerveja.

Fiquei por um bom tempo ponderando sobre as enormes vantagens de abrir mão de meu tão confortável estado de repouso, caso me dispusesse a intentar aquela hercúlea tarefa de levantar a carcaça, pô-la em movimento e, enfim, chegar até a compensação da cerveja gelada festejando espumante em minha boca e garganta. Oh, mas que dúvida atroz! Trocar um prazer por outro. Qual dos dois melhor acudiria meus anseios de não estar nem aí com o resto do mundo? Preguiça ou luxúria?

Como sói acontecer quando nos flagramos em pecado, bateu-me uma pontinha de culpa. Pequenina, é verdade, porque um pecador contumaz não pode ficar se enchendo de escrúpulos por qualquer coisa. Mas aquele era um embate entre dois ímpetos em pecar. Meus sentidos pediam estímulo e meu ânimo pedia torpor. 

Por fim, solucionei a questão de uma maneira muito lógica. Era evidente que melhor seria eu ir arrebatar a tal loira gelada e depois voltar ao “dolce far niente”, pois assim eu poderia pecar de forma superlativa. Perdido por um, perdido por mil. E assim foi que, num esforço descomunal, acabei abandonando a posição confortável e, meio zonzo, fui em direção da geladeira.

Ao me aproximar do “frigobar” já fui sentindo a salivação surtir seus efeitos e meu júbilo se assanhou por conta. Abri a porta e, junto com a baforada gelada que veio lá de dentro, veio uma certeza congelada no fato de que não havia mais nenhuma latinha de cerveja. Eu havia tomado a última na noite anterior.

É! O castigo vem a cavalo, mesmo. A frustração inibiu qualquer retomada da atividade anterior – ou seria falta de atividade anterior? Ainda por cima, se eu quisesse mesmo a tal cerveja, precisaria ir ao mercado ou à padaria para comprar outra. Fui até o “hall” de entrada e lá sentei-me, inconsolável.

Mas nem tudo estava perdido! Logo pensei em pegar o telefone e pedir uma pizza e algumas cervejas. Isso resolveria boa parte do problema. A questão é que, se eu optasse por isso, precisaria voltar para o outro lado da casa e procurar o dinheiro para pagar o entregador.

Novamente, a dúvida se instaurou!

OBED DE FARIA JUNIOR
Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 22/11/2008
Alterado em 26/08/2009


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