Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

Textos


Onde estará meu jardim?

Desde que nasci, sempre morei em casas térreas ou assobradadas, ao menos, até há alguns anos atrás quando, por contingências, passei a viver em apartamentos.

A casa onde nasci e fui criado tinha um quintal nos fundos. Lá havia árvores frutíferas, arbustos de variadas flores e, por incrível que pareça, até um bambuzal, posto que o córrego que passava atrás do terreno o tornava propício para esse tipo de vegetação. Foi nesse quintal que minhas fantasias de menino me transformavam em herói de capa e espada, caubói, bombeiro, pirata, super-homem, Pelé, e por aí vai. Eu, na época, nem me dava conta do quão privilegiado eu era por ter aquele espaço com muita terra e vegetação numa megalópole como São Paulo.

Quando fiquei adulto e me casei, dei preferência por ir morar novamente em casas. Devo ter vivido, ao longo de vinte anos, numas cinco ou seis casas. Todas elas sempre tiveram jardins. Alguns grandes, outros nem tanto, porém sempre havia uma porção de terra reservada para o cultivo de algumas flores, ramagens, gramíneas e sei lá mais o quê, até porque não entendo muito de jardinagem. Eu gosto, eu planto e eu cuido. A natureza sempre devolve o carinho que se dispensa a ela, independente de qualquer ciência.

Em determinado momento, por conveniência pessoal, precisei ir morar sozinho e, de preferência, perto de onde trabalhasse. Isso me remeteu a buscar novos tipos de acomodações em apartamentos. O apartamento é sempre mais barato, funcional e seguro. Por certo que, com alguma criatividade, sempre se pode manter alguns vasinhos ou floreiras aqui e acolá. Mas não é a mesma coisa como um jardim que brota de uma porção de terra livre. Plantas em vasos estão tão confinadas quanto as pessoas em altos andares e atrás de grades em suas janelas.

Ando pensando em me mudar e sinto uma enorme vontade ter, outra vez, um jardim. Note-se que um jardim, em si, nada tem de funcional, não se presta a nenhuma utilidade e, ao contrário, na prática, até dá um certo trabalho. Ou seja, é perfeitamente possível habitar e sobreviver numa residência sem jardim, mas ele é um sinal de vida e alegria, um remanso para buscar paz e revigoramento. Um pedaço do universo onde se pode cultivar carinho e receber de volta sob a forma de vida. E disso eu sinto falta.

Por outro lado, há pessoas em nossas vidas que, também, não têm nenhuma função prática imprescindível e, sem as quais, por certo é perfeitamente possível sobreviver. Tais pessoas são aquelas que, assim como um jardim, ficam florindo por perto, alegrando a existência, dando um sentido diferente à vida e, com certeza, nos propiciam momentos de pacificação interior e tonificação da alma, com a troca de carinhos. Sinto falta de uma dessas, também! 

OBED DE FARIA JUNIOR
Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 17/11/2008
Alterado em 05/09/2009


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras