Sentimento Crônico

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Textos


Minhas sandálias Havaianas



Estou, já faz alguns minutos, procurando meus chinelos de dedo porque, para variar, não sei direito onde os deixei. E essas minhas sandálias são ícones pessoais que indicam que, enfim, estou num ambiente bem doméstico onde posso me pôr à vontade. Afinal, aquela postura de entrar em casa e atirar os sapatos para longe, como forma de marcar a chegada na intimidade do lar, só se completa calçando as ditas sandálias.

Mas sandálias desse tipo, a mim particularmente, marcaram outros momentos da vida.

Lembro, até hoje, do meu primeiro dia de aula na escola. Dona Izabel aprumou seu faceiro pimpolho dentro do uniforme, e municiou-o com um caderno brochura de cinqüenta folhas, dois lápis pretos número dois , uma borracha branca e um apontador. Não havia mochilas e maletas como hoje meus filhos usam. Quando muito, se poderia ter uma valise destinada a isso. Mas, eu, que nasci em berço dos mais humildes, levei meus apetrechos acondicionados na primeira coisa que ela vislumbrou pudesse servir, no caso, o saco plástico de um par de sandálias. Cabia tudo ali certinho e, ainda, a boca era fechada com um cordãozinho pelo qual o saquinho poderia ser segurado.

Crianças são seres espontâneos e, assim, acabam sendo cruéis, às vezes. Nem é preciso dizer que fui o alvo de muitas chacotas, ao menos, enquanto tive de levar meu material para a escola naquele bendito saquinho. Aquela imagem ficou muito bem registrada em minha memória, a tal ponto de eu saber, inclusive, que o tamanho inscrito na embalagem era 32-33, de tanto que olhei para aquilo durante aquela época. 

Hoje, calço 43-44. Uau! Pena que nem tudo em mim se agigantou como os pés. Mas, não posso me queixar. De qualquer forma, não dá para dizer que, com esse tamanho, minhas sandálias sejam objetos que fiquem despercebidos na paisagem doméstica e, agora, tentarei encontrá-las novamente. Não porque precise calça-las, na verdade, mas porque o hábito manda que estejam ao lado da cama quando eu acordar amanhã. Portanto, preciso delas para completar meu ritual e poder ir dormir.

OBED DE FARIA JUNIOR
Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 16/11/2008
Alterado em 03/09/2009


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