Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

Áudios



       Raízes que se vão
 

          Há dias, a cultura brasileira viu partir mais um de seus dignos representantes. Deixou-nos, Pena Branca que, com Xavantinho, que já se foi faz alguns anos, compunha dupla que enriqueceu e honrou as verdadeiras músicas sertaneja e regional deste nosso Brasil.

          A riqueza da arte de expoentes como esses, registrou páginas memoráveis com lamentos de viola, que desfilaram canções com belíssimas linhas melódicas e arranjos instrumentais de intuitiva exuberância. Traduzindo para um dialeto caipira, levaram ao mundo as histórias e contextos de caboclos e sertanejos que, em suas vidas rústicas guardam aquela intensidade ingênua das coisas simples da vida.


          Essas expressões artísticas nunca tiveram lugar para efeitos sonoros eletrônicos ou sintéticos; tudo era acústico como sói acontecer com aqueles que cometem a música com uma cumplicidade franca e que não aceita disfarces ou camuflagens. O palavreado sem apoio ou guarida daquilo que é consagrado pela cultura formal, longe estava de ser indigente, porque só exprimia de forma absolutamente correta o que queria dizer, mas numa versão do idioma que os catedráticos nem sempre conseguem traduzir.


         De repente, nos vemos nesta época em que alcunharam de sertanejo aquilo que muitos consideram “sertanojo”. São uma infinidade de baladas simplórias, acompanhadas por bandas de pop-rock, com melodias medíocres mas de franco apelo popular, dizendo-se românticas mas privilegiando a “dor de corno”, exagerando nos falseios de voz que entoam num gargarejo sonoro um golfejar de agudos em várias oitavas acima. E tudo isso, massificado na marra pela infestação constante dos sinais de rádio e televisão.


          Quanto mais o tempo passa, mais perecem nossas raízes, favorecendo, assim, para que proliferem ervas daninhas. Quando o que é bom só tem lugar na história do que se lembra, o presente é residência que acolhe acriticamente em maior proporção qualquer coisa e o futuro – Deus que nos proteja! – há de ser o alojamento exclusivo de coisa qualquer.


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Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 11/02/2010




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