Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

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       Luzes e trevas

 

          Quem já não ouviu falar de Jeckyll e Hyde? Personagens do genial Robert Louis Stvenson, eram as duas faces de um mesmo homem, no caso, Dr. Jeckyll, um pacato médico que, mercê de uma fórmula química, fazia despertar um irascível e impulsivo ser que residia nas profundezas de sua alma, no caso, Mr. Hyde. “Hide” em inglês quer dizer escondido, oculto e, portanto, o nome atribuído ao lado sombrio não poderia ser mais sugestivo. Aliás, é dessa trama que veio o dito que diz que “de médico e de louco, todo mundo tem um pouco”.


          As histórias em quadrinhos acabaram apresentando sua própria versão desse fenômeno e, numa época em que heróis nasciam aos borbotões, Jack Kirby e Stan Lee nos brindaram com o Incrível Hulk. Mais uma vez, um pacato cientista exposto inadvertidamente a raios gama (sabe Deus o que sejam raios gama!), transmutava-se de sua frágil e dócil condição numa bestafera.


          Uma das diferenças básicas entre as duas tramas é que Mr. Hyde era a personificação da vilania e o Incrível Hulk um herói injustiçado e incompreendido e, talvez por isso fosse “incrível”, já que era difícil acreditar que aquele monstro fosse o mocinho da estória.


          A ficção, por mais fantasiosa e criativa que possa ser, inevitavelmente tem sua inspiração em alguma realidade. As menções anteriores, da mesma forma, dão ênfase àquilo que é óbvio, no caso, que todo ser humano tem lá seu lado mais sombrio e que, ao contrário daquelas estórias, não necessita de nenhum fator químico mirabolante para vir à tona. A parcela tenebrosa que há em nós pode ser provocada pelo pior e mais natural dos venenos, qual seja, o inconformismo com alguma realidade adversa que se nos confronte. E essa circunstância pode ser gerada pela atitude de outros seres humanos ou por algum fato desagradável sobre o qual não tenhamos controle.


          A questão que remanesce é se o nosso lado trevoso é um vilão ou um herói e, ao que parece, tudo depende das circunstâncias. Há momentos em que deixar vir à luz nossos instintos animalescos é de todo um desvario, contudo, há outros momentos em que uma reação mais enérgica e contundente é algo imprescindível para a preservação pessoal.


          O mesmo ser iluminado que nos recomendou que, diante de uma injusta agressão, déssemos a outra face, um belo dia, não aceitou com mansuetude os ímpios vendilhões que profanavam o templo e os expulsou de uma forma até que violenta.


          Pois é! Nem sempre é possível manter o recato e a compostura e, mais cedo ou mais tarde, todo mundo acaba subindo nas tamancas ou rodando a baiana. Por mais que busquemos ficar sob as luzes, inevitavelmente, de vez em quando, submergimos nas trevas. De qualquer forma, é sempre recomendável manter sob controle nossa natural capacidade de reagir com uma certa ferocidade. Ela deve nos servir para defender o bem e não servir-se de nós para espalhar o mal. 


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Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 17/01/2010




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