Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

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Espelho mágico
 
 

Ajeita a roupa, olha o cabelo e a maquiagem;
lamenta o peso e essas dobrinhas salientes.
O teu espelho só reflete tais imagens
que são contornos; meras cascas tão somente.
 
Bem sei que podes reformar tua aparência,
moldando a face, o corpo e todo o guarda-roupa.
Mas nada disso há de mudar tua consciência
cuja memória e julgamento não te poupa.
 
Tu corrompeste tudo aquilo que é decente,
prostituíste tua moral por mesquinhez.
Pelo caminho magoaste tanta gente
que um rio de lágrimas atrás de ti se fez.
 
Mas o egoísmo, a vaidade e a ambição
te entorpeceram os escrúpulos demais.
E tu prossegues caminhando nessa mão
de fantasia numa vida tão mendaz.
 
O que possuis dá conforto ao que está fora,
os teus prazeres são miragens fugidias.
Tudo que tens tão logo vem já vai embora.
É triste a busca de algo novo todo dia.
 
Não se sacia esse apetite por ser fútil,
não tem parada essa jornada sem porquê.
Cada sorriso que tu dás é tão inútil
porque enfeita só o espelho que tu vês.
 
Atrais muito só os que são iguais a ti,
que nada têm afora aquilo que aparentam.
Por fora dizem “tudo, tudo eu consegui”;
por dentro choram desvarios que lamentam.
 
E como tu são todos seres solitários,
pois só comungam do vazio que contêm.
Lhes tire a bolsa e serão podres relicários
de iniquidades, de desprezo e de desdém.
 
Sei que não crês que além do corpo haja mais nada,
o que te põe indiferente ao bem e ao mal.
Mas lá no fundo tu suspeitas que és errada
e tu não ouves essa voz angelical.
 
Tentei mostrar-te tudo isso, certa vez,
e refleti tudo que ia aí por dentro.
Viraste o rosto a este espelho onde só vês
o que encobres com teus falsos paramentos.
 
E com teu jeito amoral e sem pudor,
naturalmente me puseste porta afora.
És solitária, és infeliz no interior
e hás de viver sorrindo muito só por fora.
 
Tu renegaste a este espelho que eu quis ser,
não percebeste todo bem que te faria.
Quando tu vires a verdade irás sofrer.
Pode tardar, mas tu verás quem és um dia.
Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 23/08/2009




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