Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

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Felicidade é atitude!   (EC)


          Ah!... Hoje eu ia pelas ruas sem destino certo. Ia... por ir! Não pretendia chegar a lugar nenhum. Estava um friozinho danado; daqueles em que um vento gelado arrepia tudo. Tudo!!! Fechei minha velha jaqueta, levantei as golas para proteger o pescoço e enfiei as mãos nos bolsos. Pronto! Que gostoso estar quentinho!

 
          De repente, vi mais adiante uma latinha amassada, de algum energético qualquer. Pensei com meus botões: “E a energia não foi suficiente para jogar aquela latinha no lixo?!.” Quando estava próximo o bastante para recolher a lata do chão, ao invés disso, sei lá porque razão, chutei a coisinha adiante. E caminhei mais um pouco... e chutei de novo... e assim, fui levando a latinha com os pés tal qual bola de meia, driblando em minha fantasia um time inteiro antes de fazer o gol. 
 
          O barulho do metal quicando no chão tornava aquilo mais engraçado. E eu me vi rindo sozinho no meio da rua chutando uma latinha. Até que encontrei um cesto de lixo. Recolhi meus sonhos de artilheiro e, assim como a lata amassada, coloquei em seu devido lugar.
 
          Mas eu me enchi de contentamento e me notei assobiando. Não lembrei até agora o nome da canção, mas a melodia me agradava. E segui assim, até que uma chuva fina começou a cair. As pessoas se puseram a correr para debaixo das marquises, para dentro das lojas e botecos, tentando se proteger da água. Eu, ao contrário, arranquei a blusa e me deixei molhar. Arre!!! Que frio!!! Mas foi estimulante; muito estimulante! Senti que estava me limpando até as profundezas dessa coisa viva que habita meu corpo tão usado.
 
          A chuva logo cessou. Sequei-me ao vento sem temer o resfriado. Enquanto repunha a jaqueta notei que o sol timidamente quis dar as caras. Não era o suficiente para esquentar o clima, mas era o bastante para clarear o céu e o dia – e a mim. Daí, num canto qualquer do horizonte surgiu um arco-íris. Eu me senti colorido também! Sentei-me no meio fio para assistir os rabiscos que a natureza pintou no céu. Foi só aí que dei-me conta que as pessoas que passavam olhavam para mim como que tentando adivinhar que tipo de perturbação me afetava as faculdades.
 
          Uma senhora, especialmente, passou franzindo o cenho reprovando aquele meu despojamento em plena via pública. Ela levava pela mão uma menininha. Uma linda mulatinha de olhos muito negros e brilhantes. Ao passarem por mim, apontei o arco-íris para aquela criança. Ela abriu um sorriso maravilhado e, de boca aberta, torceu o pescocinho e foi mirando o espetáculo celeste, enquanto era arrastada pela indiferença daquela senhora para longe do maluco sentado na beira da calçada.
 
          Já a uma certa distância, a menininha olhou para trás me procurando na cinzenta paisagem urbana. Ao ver-me novamente, lançou-me um aceno de despedida. Tornei a mirar o caminho colorido entre as nuvens e deixei-me levar até onde ele termina.
 
          Hoje, eu uma garotinha conseguimos ser felizes.
 
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Este texto faz parte do Exercício Criativo “Fenômenos da natureza”
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Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 03/08/2009




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