Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

Áudios



O misterioso sumiço do controle remoto
 

          Cheguei em casa um tanto quanto cansado da cotidiana batalha pela vida. Apesar de não ter lá muito gosto por ficar preso diante da televisão, naquela noite senti-me compelido a vasculhar a programação em busca de alguma distração. Joguei-me preguiçosamente na cama e, quando já estava devidamente acomodado para apreciar o dolce far niente eis que não localizo o controle remoto.

          Ah! Que tragédia! A televisão é uma invenção e tanto, porém, sem o complemento do controle remoto fica com suas funcionalidades severamente restringidas. Afinal, eu como muitos tenho por hábito ficar saltitando de um canal a outro pinçando as inúmeras possibilidades espalhadas pelas grades de programação. Contudo, o danado não estava onde deveria estar.


          Em vão, revirei lençóis e travesseiros tentando encontrar o apetrecho. Relutante, abandonei minha invejável posição horizontal para sair no encalço do cujo dito. Primeiro fiz minuciosa incursão pelo quarto; e nada! Fui à sala de estar, ao banheiro, à cozinha, à lavanderia e, em todos os escaninhos imagináveis fucei tentando detectar o aparelhinho. Ah! Uma sequência de dolorosas frustrações foi com o que me deparei.

 
          Aquela situação, realmente, era uma tremenda ironia, pois eu que almejava ficar num quase pecaminoso estado de repouso, agora me via ali, completamente agitado, indo de um lado a outro e esbaforindo-me, cuspindo murmúrios e impropérios entre dentes por ver tamanha subversão em meus planos originais.


          A bem da verdade, a certa altura, já seria mais prático deixar a idéia da televisão para lá e ir logo para a frente do computador enveredar pela internet. Todavia, passou a ser uma questão de honra encontrar o controle remoto.


          Fui ao telefone e liguei para aqueles poucos que têm acesso ao objeto extraviado. Interpelei meus filhos e promovi verdadeira inquisição perante minha carametade. Porém, minha sindicância telefônica não chegou a nenhuma conclusão.


          Não querendo me dar por vencido, resolvi olhar naqueles lugares que, na primeira busca, foram desprezados por não serem opções lógicas. Olhei no cesto de roupas sujas. Enfiei a cara em todos os fornos: do fogão, o elétrico e o de micro-ondas. Revirei panelas, pratos e talheres. Porém isso tudo resultou em nada, a não ser por aquela sensação de que eu estava sendo ridículo. 


          Numa última tentativa, enveredei minha ação de resgate por freezer e  geladeira. E nesta, para meu espanto, lá fundo – atrás do leite – enfim  encontrei... aqueles óculos perdidos há meses.


          Quanto ao controle remoto, caso não tenha sido abduzido por alienígenas ou seres do além, certamente também haverá de surgir um dia, quando eu estiver procurando alguma outra coisa.


          Naquela noite, em sinal de protesto e em honra à minha sacrossanta preguiça, não assisti televisão.

Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 01/07/2009




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