Sentimento Crônico

Cheio de prosa! Poesia, vide verso!

Áudios



Insônia...

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

O relógio de parede parecia estar ali só pra me azucrinar com aquele barulho que, às três da madrugada, parecia ensurdecedor, porque eu não conseguia desviar a atenção.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Geralmente, durmo muito pouco mesmo, mas esta noite já dava pinta de que iria ser longa. E nada parecia ajudar a estimular o sono.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Na TV a cabo dezenas de canais: filme velho; filme não tão velho; filme novo repetido; documentário sobre borboletas; documentário sobre a vida dos pescadores na Noruega; a história dos índios sei lá o quê de não sei onde; putz... desisti.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Três e quarenta e cinco. Os ponteiros do relógio agora abriam um sorriso franco. Definitivamente o sacana estava tirando uma com a minha cara.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Peguei um livro pra ler, mas as letrinhas ficavam pulando pra lá e pra cá. A luz estava muito forte na minha cara. Virei a luz... Daí, a luz ficou muito baixa pra ler. Tentei, novamente ajeitar a luz... A lâmpada do abajur queimou! Não tinha jeito; desisti do livro.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Quatro e dez. Levei automaticamente um cigarro aos lábios, mas não acendi. Minha boca já estava com gosto de pano de chão de tanto fumar. Fui assaltar a despensa pra pegar algo e distrair a boca. Bolachinha doce... hum! não! Dá vontade de fumar. Bolachinha salgada... hum! não! Dá sede. Pipoca... pipoca?! Nossa! Eu já estava variando. Peguei uma maçã na fruteira, joguei uma água de leve e saí mastigando de volta em direção à cama.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Quatro e cinquenta. A maçã tava podre! Acendi um cigarro... Traguei... Apaguei o cigarro! Virei o travesseiro. Descobri os pés. Tornei a virar o travesseiro. Tirei o lençol. Joguei o travesseiro no diacho da televisão que passava um anúncio de alguém vendendo uma chave de fenda que apertava tudo e desparafusava qualquer coisa. "Ligue agora mesmo!", conclamava o locutor. Quem, em nome dos céus, compra chave de fenda àquela hora da madrugada?

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Cinco e vinte. O barulho do trânsito lá fora já denunciava que São Paulo estava acordada e os paulistanos se encaminhando para o trabalho. Trabalho? Me bateu uma certa angústia. Como eu ia conseguir ficar concentrado durante o dia se não tinha dormido durante a noite.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Cinco e trinta e cinco. De repente, um bocejo! Graças a Deus! Um bocejo! Ah! Só iria começar a trabalhar depois do meio-dia, pensei com meus botões - apesar de estar só de cueca. Travei o despertador, desliguei a televisão e o celular, abaixei a campainha do telefone e já estava pronto pra tentar, enfim, dormir.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Levantei, tirei o relógio da parede e o atirei com toda a força no chão!!! Que maravilha!!! Caquinhos e pecinhas pra todo lado.  Maldito "tic-tac"! 

Pronto! O sono dos justos era meu inevitável destino, principalmente porque eu já havia feito justiça com as próprias mãos contra aquele desgraçado impertinente.

Cinco e quarenta e cinco...

Ping, ping, ping...

Ah! Não! Esqueci que a torneira da pia não fecha direito!

Ping, ping, ping...

Enviado por OBED DE FARIA JUNIOR em 18/11/2008




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